quarta-feira, 14 de novembro de 2007

CAPÍTULO I

CAPÍTULO I

“Nosso dever para com a História é reescrevê-la”
Oscar Wilde


Houve um tempo em que Mauá, cidadezinha provinciana do ABC paulista, cheia de fábricas de louça, carros-de-bois, muitos animais soltos pelas ruas e encostas dos morros cobertos de farta vegetação nativa, era um povoadozinho insignificante, bucólico, onde se presenciavam aos domingos à noite, na Concha Acústica , algumas festas ingênuas do povo, tais como catira , reisados e fandangos. Foi nessa época que surgiram algumas manifestações culturais na cidade.
Tudo começou em torno do Grêmio Monteiro Lobato, onde se pegavam livros emprestados, se discutia vida alheia, moça bonita, política e até literatura, de vez em quando. Foi em torno desse ambiente que a turma ia-se conhecendo . Também passei por lá, e conheci Valêncio Branco, Benedicto Millaneli, Jarbas, Moisés Chaad, Pacolla, Chegadinho e muitos outros.
Mais tarde, com o crescimento desordenado da cidade, já nos dias sombrios da ditadura de 1964, apareceu o famoso Bar do Yugo, um japa simpático, sorridente, culto e dono de um enorme coração, que, ao se instalar no comércio local, tornou-se uma espécie de novidade; quebrando a monotonia do ambiente provinciano, acanhado, onde só se ouviam os apitos das fábricas de louça e o resfolegar fantasmagórico das máquinas ferroviárias. Foi ali que conheci os irmãos Hanssen, Castelo e Dirceu (o último já falecido). Ali, conheci o Mané Galileu, ou melhor dito, Manoel Ribeiro Soares (o Galileu fica por minha conta porque o danado do mineiro, além de cínico, cético e dialético, gostava uma barbaridade de matemática). Conheci também o J. Ramos, o Manoel Carlos dos Santos e outros. Esse bar era uma extensão do Grêmio Monteiro Lobato, onde imperava seu diretor, o velho e conhecido, “
seo Dito” e onde discutíamos os livros lidos e começamos, um após outro, como diria meu pai, em bom baianês, a “botar as unhas de fora” e a mostrar os nossos primeiros pecados literários.
Alguns, como o Castelo Hanssen e o Moysés Amaro Dalva, já demonstravam a que vieram e já se percebiam nos seus escritos iniciais uma certa força e algumas imagens bonitas, quase bem construídas. O Moysés lia muito, chegou a devorar, nessa época, cento e tantos livros em um ano. Era um exímio declamador e abafava, quando se punha a dizer o “Navio Negreiro”, de Castro Alves. Como bebeu muito em Victor Hugo e no condoreiro baiano, seus primeiros escritos deixavam transparecer a influência dos dois grandes vates. Coisa de que ele não gostava quando alguém se referia ao assunto. Trata-se de um poeta muito erudito e de grande produção literária; de certa forma, quase toda inédita, com exceção de alguns poemas publicados por mim, nos anos sessenta, na antiga “
Tribuna Popular”, do Nelson Bergamaschi, de Santo André, onde mantive, por vários anos, uma coluna chamada “Caminhos Literários” e de outros poemas publicados em um livro pirandelescamente intitulado “10 Poetas em Busca de um Leitor” - editado pelo recém-fundado “Colégio Brasileiro de Poetas”. Criado inicialmente por ele e por mim, conseguiu-se tirar muita gente do ineditismo, tais como Moacir Alves da Silva, Iracema M. Régis, Antenor Ferreira Lima (falecido), Samuel Fernandes de Aguiar, Marco Salles, Derci Miranda Gomes. Convém dizer que Mané Galileu, Dirceu Hanssen, Castelo Hanssen e este escriba, que também figuramos no livro, não éramos inéditos, porque militávamos (alguns bem esporadicamente), na citada Tribuna Popular, onde eu, um dos mais exaltados do grupo, sustentei algumas polêmicas, as mais acaloradas: uma, com o radialista Nelson Rodrigues, que mantinha uma coluna intitulada “SHOW” e em que nos filhodaputeamos; ele entrincheirado nas páginas do “Jornal da Região do Grande ABC” e, este que lhes fala, na “Tribuna Popular”. A minha segunda polêmica foi com o Dr. Décio Francisco Pereira, que escrevia para a Tribuna Popular um troço horrível , chamado “O Acadêmico de Direito e a Literatura”. Coberto de uma vaidade pavoneana, deitava a “cagar” regras sobre tudo e sobre todos, sem o mínimo conhecimento daquilo que se punha a falar.
Desses primeiros moços do Bar do Yugo, o Castelo Hanssen (hoje jornalista famoso na imprensa guarulhense), escreveu um livro intitulado “
Canção pro Sol Voltar”; Antenor Ferreira Lima, “Maré Vermelha” e “Tormenta das Horas”, Iracema M. Régis, “Poesia”, J. Ramos “Apelo”, “Poesia da Solidão” e “Espírito Selvagem” e eu, publico alguma coisa individualmente. Os outros não saíram das páginas iniciais das quatro antologias editadas pelo Colégio Brasileiro de Poetas, o que foi uma pena, porque tinha gente promissora, como os poetas Marco Salles, Samuel Fernandes de Aguiar e Moysés Amaro Dalva, que, ao lado de Castelo Hanssen, eram os mais promissores de toda a turma. Por esta época, publiquei o meu primeiro livro, intitulado “Dandaluanda”, livro, do qual não gosto nem de falar o nome. Um livro “abaixo da desconsideração”.
A exemplo de Castelo Hanssen, Iracema M. Régis publicou “
Poesia”, 1983 e continuou publicando artigos nos jornais da região; posteriormente vieram as participações em Antologias, culminando com outras publicações poéticas individuais (cordel).




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