quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Novo Livro de J. Ramos

O Novo Livro de J. Ramos

J. Ramos, filho de cordelista, que aos domingos, quando criança, costumava ir a uma feira no Largo da Concórdia, juntamente com o pai, o saudoso capitão Rufino, homem de cara feia e coração de anjo, se abastecia de folhetos de cordel. Para alguns dias de boa leitura, acaba de lançar o seu segundo livro, intitulado “Poemas da Solidão”, com capa de Arilo e selo da Scortecci Editora, um dos poucos livros bem apresentado saídos com a chancela desse editor.
Poemas da Solidão” é um livro misto, em que J. Ramos reuniu pequenos contos de teor humorista e poemas de várias etapas de sua carreira literária.
Seu primeiro livro, “Apelo”, publicado há quase duas décadas, por ocasião da revolução de sessenta e quatro, e por isso vestido com uma capa medonha, lambuzada de verdeamarelo, já demonstrava o poeta que mais tarde viria a ser o J. Ramos, que também é teatrólogo; fez sucesso com sua peça “O Bode Expiatório”, apresentada por várias vezes em algumas cidades do Estado. Nesse entremeio, publica algumas plaquetas, tais como “O Infinito por Caminhos... Só”. Todos esses trabalhos saídos da imaginação caudalosa de J. Ramos são peças recheadas de ironia, lirismo exacerbado e preocupações sociais. Muitos de seus escritos se assemelham, quanto ao pessimismo, ao mundo sombrio de Kafka ou Samuel Becket; alguns, de caráter autobiográfico, desvendam a alma penumbrosa e cinzenta de seu autor. Vejamos: “Todo poeta igual a mim é louco / e tudo que possuo é / (muito pouco) / um coração que inutilmente ama!” – Quase toda sua obra é preocupada com o aniquilamento da matéria, o fim, como podemos notar no expressivo conto “Quero ir Embora”, onde o personagem autobiográfico diz o seguinte: - “Eu quero ir embora e minha hora não chega, estou pensando em adiantá-la, mas como já disse, sou covarde, preciso esquecer a covardia e tomar coragem para, em um minuto, apagar tudo. Apagar tudo, ir embora e deixar o mundo em paz”. Esta temática do fim percorre todo o livro; vejamos a insistência do tema no poema “Ausência”: “Chove, e chovendo sinto / minh’alma presa, / e esfriando / meu corpo / algo findando”.
J. Ramos possui bons momentos nesse livrinho do seu amadurecimento, porém se sai melhor quando escreve prosa. Seus pequenos contos, aqui reunidos, são, de certa forma, minúsculas jóias, que se lêem com sofreguidão, em especial, os contos “Quero ir Embora”; “O homem I”; “O homem II”; “O homem III” e “Pescador”. O poema “Devaneio” é de uma ironia mordente e de um desfecho inesperado, que por certo agradará aos mais casmurros leitores e pode figurar sem desdouro algum em qualquer boa antologia, do que ora se produz por estes brasis de “Deus Nosso Senhor Jesus Cristo” afora.
J. Ramos pertence à safra de poetas que fundaram, há quase trinta anos, o falecido Colégio Brasileiro de Poetas, de Mauá, do qual fora presidente.


Aristides Theodoro
Jornal da Manhã, 25 de junho de 1992


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