quarta-feira, 14 de novembro de 2007

MORRE O POETA ANTENOR FERREIRA LIMA

“A História é do vivos, pois ela é a realidade – obrigatória para a consciência, frutífera para a experiência. A vida e a realidade são História, gerando passado e futuro. Conhecer a História é conhecer o Homem; É conhecer-se.”

Jose Honório Rodrigues – Teoria da História no Brasil


Encerradas as Memórias, oferecemos ao leitor alguns excertos de publicações que ilustram e revigoram o momento poético; possibilita-nos conhecer alguns episódios que marcaram a trajetória da poesia em nosso município,
através de seus artífices.

MORRE O POETA ANTENOR FERREIRA LIMA

Morreu na noite de 28 de março, aos 53 anos de idade, o poeta Antenor Ferreira Lima, autor dos livros “Maré Vermelha” (poesia), 1978 e “Tormenta das Horas” (poesia), 1983. Era colaborador do jornal a “A Voz de Mauá”. Até hoje não me conformei com a morte do Mestre Antenor. Era meu grande amigo e vinha sempre à minha casa; chegando por volta das 20 horas. Nesse dia, veio ao anoitecer, muito sorridente, como de costume. Trouxe uma fita cassete contendo uma entrevista que estava fazendo comigo; tocou partes da mesma, cotejamos o texto gravado com o escrito, fizemos pequenas emendas e passamos a falar amenidades (contou-me seus planos para o futuro; que pretendia vender seu estabelecimento comercial, tratar da aposentadoria e dedicar o resto de sua vida a escrever seus livros). Em seguida, tomando de uma folha de papel, riscou uma planta referente à parte de sua casa, que pretendia transformar em escritório de trabalho e passou a fazer uma retrospectiva de sua vida, destacando alguns pormenores. Em certo momento, levantou-se, deu uma volta na sala, apanhou um livro, folheou-o e voltando-se, perguntou, com um sorriso nos lábios:
- Lembra-se de como nos conhecemos ?
- Oh, sim! Foi num dos EPOMs de Mauá, não? – perguntei eu.
- Sim – disse ele – lembra-se de que você me deu um coice de mula naquele dia?
Sorrimos e aí ele passou a narrar a história com todos os seus pormenores, às vezes, imitando minha voz.
- Quando cheguei à biblioteca, você e o Castelo Hanssen discutiam acaloradamente, no pátio. Você fulminava um certo trabalho que fora classificado como finalista do concurso. Dizia que o mesmo era um lixo, que os juízes eram jejunos, uns distantes, uns bastardos, que nada entendiam de literatura. Já o Castelo defendia o poema e dizia, com aquele seu jeitão matuto de gozador, que você não havia entendido o mesmo, que o poema não era uma maravilha, mas não era tão ruim assim. Nisso, você explodiu, chamou o Castelo de conivente com os maus poetas e os juízes safados, jogou longe um toco de cigarro e subiu as escadas bufando. O Castelo continuou onde estava, fazendo proselitismo e dizendo que você era um sujeito rabugento, que gostava sempre de ser do contra. Antes de iniciar a sessão da noite, entramos todos no salão e você, postado em um dos cantos, discutia alto, juntamente com alguns jovens que apoiavam seus pontos de vista. Enquanto isso o Castelo, que também estava acompanhado por seus adeptos, ficou na outra extremidade, também a discutir o assunto. Nisso me aproximei de você e perguntei qual era o critério usado para o julgamento dos trabalhos. Você, que estava muito exaltado e gesticulava muito, deu um pontapé numa cadeira e rematou com um palavrão:
- Não sei de porra nenhuma, não! Vá procurar o promotor do Concurso, que por certo lhe dirá com antecedência até quem vai ganhar em primeiro lugar.
Após relembrar todos esses momentos, Antenor levantou-se e disse:
- Pois é Theodoro, utilizei esse episódio como início no prefácio que estou escrevendo para as nossas “Vozes na Tempestade” (Antologia de Poemas que o Colégio Brasileiro de Poetas preparava na época). Falou ainda do seu romance “Rebelião dos Cachorros”, que ficou inacabado e, por volta das dez horas, despediu-se, prometendo voltar no dia seguinte, a fim de revermos a nova cópia da entrevista, já datilografada com as devidas emendas.
Para minha surpresa, ao chegar à firma onde trabalho, recebi um número telefônico para o qual deveria ligar imediatamente. Liguei e logo fiquei sabendo que Antenor havia morrido naquela madrugada. Fiquei chocado, perplexo e fiz em seguida algumas ligações a fim de entrar em contato com alguns amigos do poeta e meus, que já sabiam da notícia, através da Iracema, Cidinha e do Dr. Sérgio Carvalho.
O certo é que o Colégio Brasileiro de Poetas acabara de perder um dos seus mais ardorosos membros, bem como um amigo incomparável, que era capaz de tudo fazer em prol dos seus amigos, isso sem olhar hora ou condição de tempo. A morte do Antenor deixou uma lacuna irreparável em nosso meio, pois o autor de “Maré Vermelha” era um desses homens raros, que só sabia somar, um verdadeiro oceano de bondade, que via só o lado bom do ser humano; fora várias vezes roubado e ludibriado por pessoas inescrupulosas, mesmo assim, nunca o vi desejar mal àquelas pessoas, nunca blasfemava, enfim, era uma criatura de Deus, que passou por este mundo sem querer mal a ninguém. Mestre Antenor, que a terra lhe seja leve e espero que um dia possamos estar juntos novamente, num mundo melhor, a fim de darmos prosseguimento às nossas palestras interrompidas com a sua partida. Até lá, queridíssimo amigo; aqui fico, com o coração aos pedaços, chorando a sua ausência.

Aristides Theodoro
A Voz de Mauá, 5/4/84

Tributo a Antenor


Manoel Ferreira da Cruz
(do Colégio Brasileiro de Poetas)


A vinte e nove de março,
cinco horas da manhã,
morreu Antenor Ferreira,
poeta que era um titã.

Era isso com certeza,
era um poeta colosso.
Morreu na flor da idade,
pois seu espírito era moço.

Morreu nosso companheiro,
e o Colégio Brasileiro,
chora a morte do irmão.
E o Antenor lá nos céus,
fazendo versos pra Deus,
conforta-nos o coração.

A Voz de Mauá 5/4/84




* * *


participe da Comunidade literária Estórias de CURIAPEBA
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40605150
-
Veja o Blog com algumas das Estórias de CURIAPEBA
http://estoriasdecuriapeba.blogspot.com/

Nenhum comentário: