DA TEIMOSIA E DA ETERNA JUVENTUDE
É claro que o bom baiano não contou toda a história nem pretendo contá-la neste despretensioso prefácio. Acontece que a verdade, como já disse alguém, “mora no fundo do poço” e a vida é longa, o pensamento é vário e a nossa memória é falha...
Sei dizer que o nome do Colégio Brasileiro de Poetas, do qual sempre discordei, mas fui voto vencido, nasceu por inspiração do Moysés, na redação da Tribuna Popular, um semanário de Santo André, como não se faz mais. Era um jornal dos bons tempos, dirigido pelo Nelson Bergamaschi, onde o Theodoro, eu e às vezes o Moysés, o Dirceu e o Mané Galileu, escrevíamos nossas crônicas, sem qualquer vínculo empregatício, sem qualquer profissionalismo, mas desfrutando (em tempos difíceis) a doce liberdade de opinião, tão decantada e cada vez mais esnobada, incluso por quem se diz defensor da imprensa livre e da classe dos jornalistas. Mas a nossa história é outra e convém deixarmos isso pra lá.
O fato é que o Moysés apareceu com o nome, a súmula do estatuto e até a diretoria desse grêmio, que fora assinado por ele, por mim, Theodoro e Nelson, no dia 19/10/73 e que então visava a congregar escritores e artistas; mas que eu saiba, não tinha uma finalidade bem definida. Essa primeira idéia morreu no vazio mas a semente ficou e o nome também.
Além das nossas tertúlias no Bar do Yugo, movidas a risos, piadas, pastéis, muita pinga com limão e de vez em quando, até mesmo, literatura, aconteceram outras coisas
O certo é que o Teco logo morreu e o Colégio Brasileiro de Poetas quase agonizou. Até mesmo aquela nossa velha amizade do boteco do Yugo arrefeceu, mas o Theodoro, que se diga de passagem é uma velha mula teimosa, que não desanima tão fácil, conseguiu, a muito custo, reunir novamente o grupo (eu, Dirceu, Mané Galileu, Samuel Fernandes de Aguiar, Antenor Ferreira Lima, Moacir, J. Ramos e Iracema Mendes Régis), juntamente com outros elementos novos, que aderiram ao grupo.
Nessa época, pretendíamos fundar uma espécie de cooperativa para editarmos um livro, furando assim, o eterno bloqueio das editoras. O fato é que essa cooperativa virou grupo literário e esse grupo literário passou a chamar-se novamente: Colégio Brasileiro de Poetas e depois de muitas rusgas com gráficas, quebra-paus entre nós mesmos, arrecadação de dinheiro, apoio da Prefeitura e do Comércio local, surgiu o nosso primeiro livro, em 1977, que se intitulou “10 Poetas em Busca de um Leitor”, um acontecido importante na vida da pequena cidade de Mauá. Depois de outras aventuras e desventuras, editamos o nosso segundo livro, “Revoada de Pássaros Negros”, em 1980. Com um pouco menos de briga, mais tranqüilidade, surge agora, esta terceira antologia “Útero da América”.
Editar livros é muito importante, mas não é tudo. Principalmente num país, onde se lê muito pouco. Mas a poesia faz parte do cotidiano, como conseguimos demonstrar e como vêm demonstrando outros grupos que surgiram depois de nós e ainda estão a surgir por este mundão de meu Deus afora, para levar a poesia com toda a sua essência ao povo e para beber da poesia desse mesmo povo.
Fugindo ao grupo fechado, o Colégio “bolou” um recital de poesias mensal, em local público, onde todos são convidados a ouvir e falar poesia e o povão atendeu ao nosso chamado e revelamos novos talentos, poetas de todas as idades, novos e velhos, pretos e brancos, operários e não-operários, donas-de-casa e hippies, enfim, gente que pensa, anda, sente dores e se angustia.
O certo é que o Colégio Brasileiro de Poetas aí está, vivo e forte, a mostrar que as idéias, quando bem canalizadas, não morrem. O Colégio Brasileiro de Poetas de Mauá não se casou, mas pariu filhos legítimos, como o “Colégio Brasileiro de Poetas II” de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, dirigido pelo poeta Samuel Fernandes de Aguiar, “O Letraviva”, de Guarulhos, dirigido por mim, entre outros. A prática de reunir poetas sob o mesmo teto despertou a poesia adormecida em cada um, encorajando as pessoas a mostrarem seus trabalhos; frutificou e hoje existem recitais dessa natureza espalhados por todos os cantos. O Colégio suplantou as fronteiras e tem, em seu seio, gente nova e promissora, que quer continuar esse trabalho pioneiro, de espalhar poesia por todo o Brasil. O grupo é grande, gente, muito grande, vasto como o mundo e tem lugar para todos os que queiram trabalhar em prol da poesia e em nossa terra.
Eu falei em “arranca-rabos”. Pois é, existiram, e muitos e por certo continuarão a ocorrer, mas são brigas de família que sempre terminam
Castelo Hanssen
Mauá, 25/1/82
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