quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Iracema M. Régis

Prefácio

Palavras que o romancista Antônio Possidônio Sampaio colocou na apresentação de “Poesia”, primeiro livro de Iracema M. Régis.

Antes de publicar seu primeiro livro, Iracema Mendes Régis tornou-se conhecida do movimento literário, como agente cultural e poeta laureada.
Como agente de cultura, há muito que vem lutando ao lado de uma plêiade de poetas, fundadores do Colégio Brasileiro de Poetas, de Mauá, cuja presidência atualmente ocupa.
Integrante do movimento poético, participou de concorridos concursos, obtendo a primeira classificação do II Concurso de Poesias de Cubatão com a poesia “Título não Importa”, constante deste livro; no III Concurso de Poesia de Cubatão, recebeu o prêmio de melhor intérprete, com “Meu Canto Primeiro”, também figurando nesta obra.
Como se vê, antes de estrear em livro, Iracema submeteu-se a julgamento público, que lhe reconheceu mérito, fato suficiente para justificar esta edição.
Sua poesia reflete a angústia do tempo presente e a luta da autora em busca de libertação. Luta veemente. Na maioria dos poemas, ela se debate, tentando encontrar um desequilíbrio que resulte na vitória do princípio do prazer sobre o princípio da realidade, que enseja tantos desencontros ao artista. Luta para vencer a realidade dialética que nem todos conseguem vencer sem angústias e tensões. É o que a gente se dá conta, ao ler mensagens como “Terapia”, “Conflito” e tantos outros apelos à libertação pessoal.
E assim, verberando contra a realidade massacrante que envolve todos nós e o artista em particular, Iracema também sabe comunicar o seu lado lírico amoroso: “Uma poesia Só Para Você”, - “Canto a Vinícius de Moraes” , etc. Por isso, ninguém consegue ser indiferente à sua poesia, que merece ser lida e refletida.

Antonio Possidonio Sampaio
São Paulo, julho de 1983

Iracema a Dona do Copão

Com o poema intitulado “Título não Importa”, a poeta Iracema M. Régis, membro do Colégio Brasileiro de Poetas, venceu o segundo Copão – Concurso de Poesias de Cubatão realizado no dia 06 de julho passado.
Iracema, que convém dizer, é um dos grandes valores da poesia moderna brasileira, em Cubatão, conquistou com a pujança dos seus versos, de teor socializante, a simpatia e os aplausos dos velhinhos exigentes do júri. Os jurados não regatearam notas, fazendo da nossa menininha a figura ímpar da noite, que ofuscara todos os outros poetas presentes, como se a casa fosse somente dela.
Título não Importa” é um poema de rara beleza e de calor humano, onde a poeta com estilo seguro, vibrante e denunciatório, faz uma retrospectiva sobre a condição humana em seus múltiplos sentidos.
A menininha, que também é uma espécie de deusa grega na arte de declamar, após deitar e rolar no palco, arrebatou um verdadeiro dilúvio de palmas, beijos e abraços de homens e mulheres, que, euforicamente, queriam apertar-lhe a mão pela vitória alcançada. Vitória essa, que, em parte, para nós mauaenses e colegiados, representa um motivo de orgulho.

Aristides Theodoro
A Voz de Mauá – Mauá, 7/7//80

O Título não Importa

A menina que ali está
Disse ser boa de trova
E para provar foi mais longe
Indo até Cubatão
Ganhando difícil prova
Iracema Mendes Régis
Poetisa das boas
Que nasceu no Ceará
Em Município vizinho
Ganhou primeiro lugar
Trazendo-nos mais um título
Para a nossa Mauá
Esse teu líquido berrante
Não pode jamais parar
Te queremos viva e não morta
Fazendo poesias sem título
Porque o título não importa.

Moacir Alves da Silva
A Voz de Mauá, 7/7/80

Babilônia de Papel


Ao ser convidada a fazer um artigo sobre o acervo livresco, que o escritor Aristides Theodoro formou e vem formando ao longo de sua vida, constituindo talvez a maior biblioteca particular do ABC Paulista, nem me passou pela cabeça fazer um levantamento de quantos títulos ele possui, mesmo porque o proprietário nunca se preocupou com a quantidade, de modo que não sabe o número exato deles, muito embora o Diário Popular, de 24.02.97, tenha calculado e publicado a cifra de oito mil livros. Por sua vez, o Jornal de Mauá, de 01/07/00, avaliou um montante de nove mil exemplares.
O que me despertou a atenção com referência à bibliomania desse colecionador foi o lado folclórico da história, que tenho apurado através dos tempos, de fatos por ele mesmo narrados.
Coloque-se o leitor a vinte anos atrás, morando numa ruazinha qualquer de um bairro periférico de Mauá, sem as devidas melhorias, onde abundava o matagal e o passeio dos animais. Nisso, chega um novo morador, trazendo na estranha mudança uma parca e singela mobília, acompanhada de um caminhão de livros e estantes.
Desse dia em diante, Aristides Theodoro, qual um Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto (um sujeito estranho, de gosto e comportamentos diferentes, fora dos padrões estabelecidos para a maioria dos mortais), passa a ser olhado de esguelha, de atravessado, e as reações mais inusitadas começam a aparecer.
Imagine o leitor a surpresa das pessoas não dadas ao contato com o livro ao entrarem na sala do Senhor Aristides Theodoro e não vêem de cara uma televisão (vício do homem moderno). As quatro paredes estão revestidas de estantes, com os tomos em fila dupla, sem contar os que estão espalhados pelo chão, em cima de cadeiras, poltronas e da mesa entulhada de papéis, onde repousa uma velha máquina de escrever.
As reações são as mais surpreendentes: há os que se sentem mal e espirram, como é o caso de minha irmã, Judite Mendes Régis Nogueira e do contista Valmir do Carmo Meira. Há quem recomende vender tudo para o ferro velho e aqueles que chegam à casa do escritor às dez horas, vão até as sete da noite e falam unicamente de si próprios, sem tecer comentário algum a respeito da fortuna literária ali presente.
Certa vez um advogado, figura benquista na cidade, na ocasião à busca de votos para sua candidatura a Prefeito, ao ser recebido pelo poeta, assim portou-se: sentou-se recostado a uma prateleira de livros, pediu voto, conversou sobre si mesmo, repetindo várias vezes: - “Aristides, como você sabe, eu venci, eu fiz o crássico...”. Foi embora e não viu um só exemplar ao seu redor.
O Bibliófilo adquiriu a primeira obra de sua Biblioteca - “Os Escravos”, de Castro Alves, em 1º de novembro de 1958. Em toda a sua existência tem se dedicado inteiramente à leitura e aos livros. A princípio, comprados com imenso sacrifício, deixando de atender a necessidades básicas como o vestir, calçar e alimentar. Comprados, adquiridos, quando novos, muito bem; quando usados, conserta-os, lixa-os, limpa-os, guarda-os e conserva-os. Não mais empresta, pois a maioria das pessoas não os devolve e quando os devolve, voltam tortos, ensebados, rabiscados, danificados, esculhambados. Mas gosta de presenteá-los, com o maior prazer, sem compromisso ou outra intenção que não seja a de difundir o livro, abrir novos caminhos para o ser humano, através da palavra impressa. Ou simplesmente para angariar novas e boas amizades, que é uma das coisas mais sublimes deste mundo.
Desde que o conheço (em 1976), o polêmico, o estranho, o nervosinho, o autêntico, o temperamental, o teimoso, o persistente, o querido e aceitável, o temido e o odiado, o grande (dito folcloricamente pelos amigos), o leitor e escritor abnegados – Aristides Theodoro respira o ar de sua Toca-Filosófica, em meio a uma verdadeira Babilônia de papel, em que, numa contradição, ele se movimenta na mais perfeita harmonia.

Iracema M. Régis
Mauá, 20/08/01

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