quarta-feira, 14 de novembro de 2007

CAPÍTULO X

CAPÍTULO X

Em 1982, quando Iracema M. Régis era Presidente do Colégio Brasileiro de Poetas, ela e seu tesoureiro, o contista e poeta Valmir do Carmo Meira, incumbiram-me de organizar a quarta antologia literária do grupo. Por essa ocasião, o Colégio estava no auge de sua história e recebia gente de São Paulo, Guarulhos e de todo o Grande ABC Paulista, que vinha prestigiar as nossas reuniões. Provam isso os recitais de poesia que eram bem conhecidos . Afinal, todo mundo queria aparecer, ter o seu minuto de glória. Como sempre gostei de trabalhar, escolhi alguns colaboradores e pusemos as mãos na massa, numa labuta desesperada em prol do livro. Logo de início, colhemos um vasto material literário dos seus membros, muita gente nova e muita poesia além do medíocre. Pedimos ao Castelo Hanssen, um dos fundadores e profundo conhecedor da história do Colégio, que fizesse um prefácio, narrando os seus pontos de vista a respeito do assunto. Castelo fez uma obra- prima, que até hoje serve de embasamento para quem se reporta ao tema. O projeto da capa fora entregue ao poeta Antenor Ferreira Lima, que era desenhista e eu, juntamente com outros membros, nos incumbimos do título, da seleção de textos e da montagem dos originais, que deveriam seguir o padrão dos “10 Poetas em Busca de um Leitor” e “Revoada de Pássaros Negros”. Afinal, desde os primórdios do grupo, pensávamos em seguir um critério e publicarmos os livros dentro de um mesmo padrão. Após escolhermos (quase que só eu e o Antenor) os títulos, pois os outros que nos cercavam eram de uma esterilidade medonha, tiramos fora os menos significativos e ficamos com três ou quatro que nos pareceram mais criativos. E assim, com o livro montado a grosso modo, com capa e prefácio, marcamos uma reunião para submetermos o resultado de nosso trabalho ao grupo. A experiência foi desastrosa. Ninguém concordava com ninguém. Uns achavam que deveríamos fazer um livro grandalhão, onde eles pudessem colocar o triplo dos poemas do esboço. Outros não queriam a capa. Mas quando abríamos mão e pedíamos que trouxessem coisa melhor, ficavam embasbacados, sem ação e mais nada faziam a não ser aguilhoar, com a verruma ferina da crítica, os que tentavam fazer algo em prol da agremiação. A única coisa em que houve unanimidade, desde o início, foi o prefácio de Castelo Hanssen. Entre os títulos escolhidos por nós, foi aprovado (com restrição, depois de muitas brigas), “Útero da América”, que não passa de uma montagem saída de um verso de “Canto General”, do chileno Dom Pablo Neruda.
Vencida, a muito custo, a primeira etapa, passamos a procurar gráfica que oferecesse bom preço e qualidade. A Cleide Veronese (já falecida), membro do grupo, que prestava serviço de editoração, ao olhar o material, achou que deveríamos fazer um livro diferente do que pretendíamos. Tanto parlou que nos convenceu a fazer o livro a seu bel-prazer. Por essa ocasião, ela havia editorado o livro “Ventre Aberto”, do poeta Agnaldo Lima Silva, para o qual fiz a orelha e, diga-se de passagem, o livro era passável. Agnaldo se prontificou a fazer a parte da datilografia, coisa que nós sempre repudiamos. De início, datilografou o prefácio de Castelo Hanssen e submeteu-o à nossa apreciação sendo aprovado por todos. Disseram que o preço cairia mais da metade. O certo é que aceitamos a proposta e mandamos rodar o livro. Quando fomos ver as provas, foi aquele fuzuê danado. O livro era um dos troços mais horríveis que já se editou na história gráfica do país em todos os tempos. E passou a ser chamado, daí por diante, de “a cloaca da América”.
A Cleide Veronese, ao notar a revolta dos membros do grupo contra a má qualidade do livro, tirou o corpo fora, jogou toda a responsabilidade nas minhas costas, passou a me evitar, unindo-se aos meus detratores que queriam a minha cabeça a prêmio. Teve quem não aceitasse os seus poemas como estavam e retornou a obra à gráfica, a fim de que fossem reeditadas partes, de modo a satisfazerem exigências. O certo é que o livro, que era para ser o mais barato, tornou-se o mais caro e o pior de todos que fizemos. E em seguida, um dos co-autores, insatisfeito, tentou mover um processo contra mim e assim a coisa foi se azedando a cada novo dia. Os antigos amigos passaram a me olhar de soslaio, como se tudo que acontecera não tivesse a aprovação de todos. Minha decepção foi enorme; chocado e, após pesar os prós e os contras, achei por bem mandar o Colégio com suas picuinhas e suas suscetibilidades à flor da pele, às favas, e cuidar da minha própria vida, isolado de grupos ou de qualquer igrejinha. Foi aí que me enclausurei na Toca Filosófica e passei a fazer uma obra solitária, só dando satisfação a mim mesmo e a alguns bons e poucos amigos. E assim, com o meu afastamento, o Colégio Brasileiro de Poetas, que durou por alguns anos, definhou e, por fim, morreu, vivendo apenas dentro da lembrança de alguns dos seus membros. Depois de sua morte, surgiram novos grupos em Mauá, porém nenhum deles com a força e garra daqueles moços sonhadores que se reuniam nas dependências do velho Bar do Yugo, lá pelo início dos anos sessenta.
Bem, por aqui dou por encerradas estas minhas memórias sobre algumas manifestações literárias em Mauá. Portanto, “finis operis”.



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