quarta-feira, 14 de novembro de 2007

CAPÍTULO V

CAPÍTULO V

Em 1977, após o lançamento da antologia “10 Poetas em Busca de um Leitor”, resolvemos patrocinar uma feira de livros em Mauá e convidamos vários grupos de poetas e artistas, não só de São Paulo, mas também do Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, etc. Conseguimos realizá-la na Praça 22 de Novembro. A Secretaria de Cultura colocou várias barracas na praça, a fim de acomodar os participantes e os que tinham material a expor. No dia marcado, lá estávamos juntamente a outros grupos ruidosos, e ali foi lido um Manifesto feito pelos integrantes do Grupo Poetasia, de São Paulo. De certa forma, violento para os dias sombrios de regime militar duro e obscurantista, quando não se podia dizer nem mesmo o clássico ai, jesus!, herdado dos nossos avoengos portugueses. Nesse tempo, por várias vezes, ao fazermos as reuniões do grupo na Praça 22 de Novembro, fomos vigiados pela polícia.
A feira de livros, em retorno econômico, não rendeu grandes coisas; só que os jornais nos deram boa cobertura e, através disso, viemos a conhecer muita gente do mundo literário que se interessou por nós. Daí passamos a somar forças para a nova antologia. Como nos reuníamos aos domingos, na praça, fomos convidados pelos integrantes do TECO, para nos juntarmos à SAVAC (Sociedade Amigos de Bairros de Vila América e Adjacências). Foi quando começamos a nos esbandalhar. A princípio, tentamos montar um espetáculo composto de poesia, música e teatro. De início, parecia que ia dar certo; porém, o personalismo dos vários grupos heterogêneos fora aflorando a cada ensaio e, um dia, explodiu. O Moysés Amaro Dalva, numa manhã, muito irritado, após bate-boca com Ailson de Genaro e Castelo Hanssen, abandonou o grupo, dizendo em alto e bom tom: - “É melhor andar acompanhado por dois homens inteligentes, que saibam pensar, do que andar com dez cabeças de mamão!”
Permaneci no grupo, tentando consertar a situação, mesmo com a falta do Moysés, que era uma espécie de cérebro de tudo (embora inconstante, inconseqüente e brigão). Só que os donos da casa tinham idéias pré-concebidas sobre o que queriam e longe estavam dos sonhos primitivos do Colégio Brasileiro de Poetas. Como percebi que não conseguiria impor as idéias iniciais do grupo, que só se preocupava com literatura, resolvi abandonar os novos integrantes da SAVAC, com seu, programa em fase de apresentação.
A inauguração do espetáculo foi um estrondoso fiasco, como bem documentou Castelo Hanssen, no prefácio do “Útero da América”, último livro editado pelo Colégio, em 1982: “Chegamos mesmo a montar um recital dramatizado, composto de música, teatro e poesia, que antes da sua estréia levou o novo grupo a mais um dos homéricos “arranca-rabos”, causando o desligamento do Theodoro, do Moysés, do Celso e do Boralli (os dois últimos faziam música). Estreamos de teimosos, num dos trabalhos mais porcos que alguém conseguiu fazer na história da Poesia, da Música e do Teatro. Também pudera, com um grupo despedaçado, desmilingüido às vésperas da sua apresentação!”
Após o espetáculo, aquilo que se esperava veio a acontecer: o grupo acabou com muitas picuinhas, fortes ressentimentos (muitos deles permanecendo até hoje) e desavenças, cada um indo para o seu lado. Deixei a poeira abaixar e, como tinha livre acesso entre todos eles, tentei reconstruir o grupo com alguns dos seus primitivos membros. Foi tarefa inglória; ninguém acreditava mais em ninguém. O Moysés disse, peremptoriamente, que não tinha mais interesse pelo grupo. Porém, aos poucos, sem ele, voltamos a nos reunir na praça e no Bar do Yugo.
Leiamos mais um trecho do que Castelo Hanssen disse no seu prefácio a este respeito: “O certo é que o TECO logo morreu e o Colégio Brasileiro de Poetas quase agonizou. Até mesmo aquela nossa velha amizade do boteco do Yugo arrefeceu, mas o Theodoro, que diga-se de passagem, é uma velha mula teimosa, não desanima tão fácil, conseguiu, a muito custo, reunir novamente o grupo (eu, Dirceu, J. Ramos, Moacir Alves da Silva e Iracema M. Régis). Nessa época, pretendíamos fundar uma cooperativa para editarmos um livro”.
Logo tentamos montar nova antologia e fizemos recitais de poesia a cada segundo domingo do mês, reuniões bem concorridas, na Biblioteca Municipal de Mauá, a princípio; e mais tarde no Anfiteatro da Prefeitura, onde os nossos poemas eram declamados. Foi uma boa fase do grupo, pois vivíamos com as cabeças cheias de sonhos e poesias, sem grandes brigas.
A nova antologia, que veio a se chamar “Revoada de Pássaros Negros”, enfeixava trabalhos de quatorze poetas; capa de Luiz Antônio Boralli e apresentação minha. Ficou pronta e como não tínhamos recursos para editá-la, fizemos de tudo para conseguir o dinheiro necessário. Vendemos rifas, arranjamos donativos junto ao comércio local, etc. O Moacir Alves da Silva, que era.muito chegado ao Prefeito Dorival Rezende da Silva, vendeu 100 exemplares adiantado e recebeu o dinheiro; o mesmo fez Castelo Hanssen, em Guarulhos, onde exercia a função de jornalista. O certo é que, quando menos se esperava, o livro estava impresso e de certa forma, vinha satisfazer os nossos sonhos e anseios, represados por muito tempo.



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